13 agosto 2014

Porquês


    Eram onze horas, ele gostava de acordar tarde aos domingos. Espreguiçou-se, daquelas espreguiçadas bem longas, dormira tão mal essa noite, que ainda tinha sono. Levanta-se para o café do meio-dia, banho rápido, escova os dentes, e olhou-se no espelho: Que noite mais "acordada", nossa! Entretanto, não era um sonhar tão imaginativo assim, só um tanto longínquo aquilo tudo. Ao menos o que lembrava, e até tentava não lembrar, porém não conseguira. Vindas experiências, tão malucas e doces, fulgurantes e débeis, e um tanto afáveis, definidamente, e que se partilhasse, uns chorariam, outros aplaudiriam, porque nem mesmo ele, sabia como lidar. Mas, afinal, por quê?
    Delinear, o parecia tão minimizar o que passara, tanto pelas pseudo-aulas, quartas-
-feiras à noite, quanto a generalizações de formas quaisquer; sobre aquele sobressalto de tempos atrás, preferia dizer que tinha bebido, ou que havia usado qualquer outra coisa, ou que era uma sacanagem dos amigos e que esquecera seu Facebook aberto, a dizer que da falta que sentia, sem qualquer explicação, até a falta que sentia, o entristecia, nem sempre a tristeza é algo ruim. Mas, afinal, por quê?
    Foi a melhor coisa da vida dele, deixar que fossem amados, pois não existia mais entre eles, ao menos a paixão, essa, certamente, já não mais. Talvez tivessem passado uns dez anos de tudo aquilo!? Ele guardou-a, como ela pediu-o que o fizesse. Entendia que não acresceria sentido voltar a procurá-la, nem sabia mais muito, ou coisa qualquer, sobre ela; nem seu telefone, se havia se mudado, como era seu novo trabalho - já existia algum tempo desse novo trabalho - se ela ainda tinha namorado, ela sempre namorava e ele odiava essa falta de amor-próprio, essa necessidade, ele passou a ser totalmente contra a monogamia desde o final da relação deles. E até apreciava isso, justamente pela ideia de "revolução", porque assim, não haveria mentiras, ele não precisaria nem sequer omitir.
    Saiu do banho, "carregado", não entendia o porquê.
   Lembrou-se, então, do calor que era dormir a seu lado, suavam, mas jamais, jamais soltavam-se, escorria suor, de ambos, porém não sentiam vontade, soltar-se pra quê? Ficavam juntos, do momento em que chegava, na sexta-feira, até o momento em que saia, no domingo, sempre. Tomavam banho juntos, escovavam os dentes juntos, cozinhavam juntos, lavavam a louça juntos, saiam juntos - todo o tempo juntos, todo o tempo. Como era viver sem ela? Perguntava-se aos domingos no fim do dia, sim, faziam dez anos já. Mas, afinal, por quê? Por que agora, por que dessa forma, por quê? Vai até seu armário, abre-o, veste-se, e olha pra gaveta bem de baixo, e lembra-se... Abre-a e relê as coisas "sub-doze anos" que escreviam-se.

  - Tão besta, não acredito que já fui assim.

    Cristalino, se fosse derivar só de uma forma como eramos. Mesmo com tudo, sabendo, vivendo, conhecendo hoje, os nossos erros e acertos, derivo-a com sorrisos, talvez derivá-la fosse diminuir tudo aquilo, porém lembra-te-ei, como pediu-me, naquela quarta-feira. Mas, afinal, POR QUÊ?

07 agosto 2014

Diálogos próprios (algum número)


  Perdão aos que não gostam de pontualidades.

  Sempre é um tempo muito derivado, a idade chega, as pessoas mudam, fato, mas pensemos nisso aqui...


  Ser linda nunca é bom, bonita sim, é legal, e tal, mas LINDA, realmente linda, não. Nessa sociedade em que vivemos, ser bela é um tanto comum, mas LINDA, sabem, lindíssima, isso não é muito legal, sei lá. Imagine viver com os homens a sua volta, sorrisos por beleza são tão mais frios, mais comuns, prontos, derivadamente ali, sempre... sei lá - de novo.
  Calmamente é uma exatidão um tanto pragmática, eu não saberia como reagir - Não me acho muito bonito. Mas aos realmente lindos, como é? Tipo, vocês sabem quando é real, quando há sinceridade naquilo o que foi dito, ou demonstrado? E aos não tão lindos assim, pensem, quem está ao seu lado, é por realmente gostar de vocês. Vendo assim, me sinto mais feliz por ter quem realize-se a meu lado, e vos digo, valorizem, porque a beleza passa, a curtição passa, mas o carinho, o respeito, a admiração, isso não, podemos ficar anos separados de algumas pessoas, mas sempre, sempre-sempre, elas terão a nossa admiração, o nosso respeito, o nosso cuidado. Imaginem quantos dos mais belos nunca terão aquilo o que vocês já tiveram... Nem por um segundo. É demasiadamente triste pensar assim, mas divirjo de que beleza seja fundamental, ao menos aquela comum, vista aos olhos, a beleza mais impressionante, é aquela que a gente nem pode explicar. O mundo é mais doce sem definições, afinal, elas mudam, as definições são tão pequenas quanto dizer que um átomo é indivisível, talvez há uns vinte, trinta anos, fosse, mas os "quarks" já redefiniram a química. O pronto não nos chama tanto a atenção. Não é aquilo que está, é o que vemos caminhar, não é parado que se chega; não, não é.
  Gosto de sentir aquilo o que talvez ninguém mais sinta, mas será que é assim que as pessoas se sentem ao lado daqueles que são realmente lindos? E como se sentem as pessoas que assim são? A beleza pode não ser algo muito bom, para aqueles que são em demasia, ao menos acho, sei lá - outra vez.

06 agosto 2014

Atipicidade?


  Ah, que saudade!

  Sonho, ou realidade? 

 O melhor era não delimitar, não determinar antecipadamente uma ideia, conhecer, experimentar; sorrisos, sorriso de saudade, sorriso de vontade, sorriso de não saber, sorriso.
  Era sorrindo que ele lembrava das coisas pelas quais passou, principalmente das que causariam constrangimento, e sim, eram daquelas que o faziam crescer, ou da bagunça das suas escritas jogadas ao chão, ou do horário tardio que sempre dormia, ou que apreciava mais a gentileza do que a beleza. 
  Não existe melhor pontuação do que os três pontos. Pelo que virá, certamente, ou pelo que já é conhecido pelos que ali estão. Não pela saudade, às vezes é um tanto cruel aqueles três pontos surgirem, porém mesmo dentro de crueldade qualquer, iniciasse ali uma nova etapa, e com um ponto final, indubitavelmente, acabaria. O ponto final é o fim. Talvez exclame, talvez pergunte, talvez virgule, ou mais uma vez... Era saudade o que não podia definir, eram os três pontos, justos da saudade; não tinha UM algo, nem dois, nem cinco, eram pontos dispersos, uma variedade, daqueles famosos TRÊS PONTOS.
  Essa saudade era tão grande, às vezes tão pequena, era quase despercebível. Era uma saudade das saudades que já tinha tido, que, de repente, passou a não mais ter. Tipicamente as pessoas se elogiam, elogiam o cabelo, os óculos, o sapato, a barriga, os olhos, o olhar, as sardas, mas depois de muito caminhar, a vivência mais concreta que ali estava, era aquilo o que cada um mais prestasse atenção. Ele; não eram abraços, não eram beijos, nem as conversas, vira e mexe ele falava coisas totalmente sem-sentido, tinha até diálogos bem próprios, às vezes; era do cheiro, não sei se alguns de vocês já viram o filme do assassino que diferencia o odor das coisas impressionantemente bem, Perfume - A História de um Assassino, e que afirma, fortemente, no filme, que cada um tem um cheiro diferente, enfim, o diálogo não era esse, me referia aos cheiros mais variados, e sim, determinantes, cheiros demonstrativos e convidativos que exalam durante algo, mas me referiria explicitamente a sexo; cada um tem um cheiro, um gosto, uma maneira de ser percebido, durante o ato em si. Ele nunca tinha escutado um elogio a respeito dele próprio relacionado a isso; e nos últimos tempos, surpreendentemente, já ouviu mais de uma pessoa falar. Isso o impressionava, afinal, ele nunca havia pensado realmente sobre esse ato em si. 
  Sentia falta do cheiro de uma determinada pessoa específica, sentia falta de um odor - estranho, eu sei - não sabia como definir, e essa saudade, era a saudade de quê? Saudade do gosto, das conversas, da convivência, dos risos, das brigas, do silêncio que não incomodava, ou talvez, do cheiro que enchia o quarto quando ela se deitava sobre a cama. 
  Depois de muito pensar, sobre aquela quantidade absurda de saudade, ele percebe, a saudade talvez não seja das saudades que deixou, talvez seja saudade da saudade que ainda não teve, entendem?
  São os três pontos que melhor definem uma afirmação assim. Não teve um ponto final, porque ainda não teve um fim. A exclamação também definiria corriqueiramente, assim como a interrogação, fechariam o texto, e ele ainda não está. Os três pontos definem de forma indefinida, sem saber aquilo que os espera. 

    Eis, é a vida.

  Onde definir seria minimizar o que está por vir, três pontos são o que os espera. É um possível começo, uma introdução. Já sabida pelo leitor, ou ainda, que será demonstrada. 
   
   (...)Logo a seguir.

04 agosto 2014

Personagem


   Era assim. Vinha sendo um personagem.
  Criava, juntava, sorria, era ele, exatamente ele; mas não era; não era nada daquilo o que imaginava quando criança, quando dos seus piores deméritos, nem sequer imaginava, aquilo pelo que passara, aquilo pelo que passou. Veio, veio forte, denso, pragmático, desolador, porém, estava tão mais forte, do que jamais esteve, ele, não só pela idade, não só pelos erros, também pelos acertos, também pela definição que escolheu. Pois sim, definição é escolha. E sim, as escolhas mudam. Entretanto, não era frio. Tinha, sempre, sempre-sempre, uma escolha pela qual definia-se. Descrédito, não demérito, demérito é crueldade consigo. E os amores, que deixou por escolha, nunca haviam feito tanta falta, cada qual, eram parte, tinham construído, aquilo o que se tornara; os deixou não por mudar de escolha, mas por encanto, por saber que mereciam mais do que derivadamente era seu. Entendia ele, o tamanho ínfimo que deduzia, que derivava; pelo livre, pela liberdade.
  Não, não seria mais ser menos, admitidamente; mas sim, seria menos fingir ser mais - isso aprendeu, dolorosamente. Via-se como pré-cambriano, perante a tanta era de degelo. Muito barulho, muita gente: meu cabelo; meu carro; meu dia; minha noite; meu bigode; minha família; minha história. "Estórias", de si próprios, e de si, consigo... Sem espaço para mais ninguém. O mundo tornou-se o umbigo, e nada além, nem tem-se tempo para nada mais, porque as relações, tornaram-se menores, meu eu é mais importante - já falei de mim?
  De repente, aquele mundo não era mais o dele, não pelo bigode, ou pelo cabelo, ou pela fila, ou-ou-ou, não, não tinha espaço naquele mundo, eram eles, e só; mas eles todos, sem generalizações, enfim, eram gente como a gente, gente como ele, que a ideia dele, nada tinham. Personagens. Vastos de si, ocupados consigo mesmos, o tempo que derivavam só, só para si mesmos. Eu. Meus. Cá. Aqui.
  Tornou-se o mundo que pertence a "eles", a eles outros. Só aquilo o que querem, como querem, assim que querem. E assim vão, sorriem, estacionam, comem, bebem e dormem. 

   "Parem o mundo que eu quero descer."

    - Já falei de mim?

23 julho 2014

Sonho


    00:47.
   Ela falou-lhe do sonho que mal lembrava, só lembrava que era com ele e que dançavam, e que ele dançava bem; ele ri, mas, despropositadamente, não sabe como reagir; e como num mundo um tanto inimaginável, imagina. Não a dança, porém o som que tocava, que tocava não só aos ouvidos, o som que se sentia, o molejo que rebuscava em si, o entrelaçar. Lembrou-se então que nem sabia dançar, que tentava, vez-ou-outra, entretanto, definitivamente, não sabia. A música que tocava, o olhar que recebia, o fim do musical, como era? Como seria o som?  O som do seus olhos, do calor, do calar, do sorrir - se tinham olhares, se tinham sorrisos - como tinha sido?
  Era desorientado, e era isso o que ele mais gostava. Muitas pessoas já haviam sonhado com ele, mas ela sem conhecê-lo, o fez atilar sentido naquilo; como seria?
  Como seria sonhar com pessoas que nem conhecemos? Como seria? A altura, o cheiro, o sorriso, a impetuosidade, e o principal, como seria dançarem?  Como teria sido dançar com ele? Disso era só o que ela lembrava, mas não o falou. E como seria dançar para ele, porque na vida real, era assim que seria!? Ela não lembrava do fim do sonho, afinal, no acordar, não lembrar de um sonho é bem plausível; porque na vida real, saberíamos como acabaria... Que devaneio prazeroso de imaginar como seria. Caso fosse ilusão, que utopia. Caso anseio, que idílio formoso é magicar, também utopia?
   Sim, era um sonho. Ela nem sequer sabia qual era altura dele, ou sua voz, seu sorriso; nem sequer sabia que ele não sabia dançar, ou como não sabia requebrar ordenadamente, não sabia; excogitação, por tempo vago, intento.
  Eles nem, ao menos, se conheciam, mas se imaginavam, tocavam um ao outro, sem se tocarem. Como seria dançarem? A definição é tão cruel quanto um pássaro que perde as asas, ou um elefante que perde a tromba; ela nem sabia que ele não sabia dançar, mas tentaria certamente; porque depois de pisar sobre o pé dela algumas vezes e desistirem da dança... como seria?


07 julho 2014

Sofisticação


    Foi sofisticado, o sentido em que ela o olhou; ele estava ali, parado, em frente à cama dela, ela simplesmente sorriu. Não existia a frágil limitação de ser nada daquilo o que não era, precisava ser exatamente da maneira como realmente era. Era quente ali, era frio lá fora. Era descrente ali, era moralizado lá fora. Ali, justamente ali, era onde existia cumplicidade, onde nada era frágil, onde não existia medo, era solto. Não sabia exatamente o porquê, mas era. 
    Sós, estavam a sós, e ele, por mais absurdo que pareça, sentia o suspiro dela, ouvia-o, enquanto ela o olhava. Foi quando, depois de quase um ano deles juntos, ela mexeu nos cabelos, e falou: não quero mais isso de poliamor, quero só você! Ele não sabia o que dizer, nem da forma como olhar, aquilo era, era amor, era o amor mais admirável, assombroso, prodigioso, magnífico, que já havia sentido. Mas só dela era algo não poderia ser. Não por mais ninguém, e sim por aquilo o que escolheu, o que determinou: as pessoas nunca são, elas estão. E assim como ele perdeu um grande amor, não fechava-se pro mundo. Dos cheiros mais malucos que já sentiu, dos melhores sexos que já teve, dos cabelos mais cheirosos, dos sorrisos mais excitantes, dos sussurros que não lembrava, dos gritos que nunca imaginou... Não era disso que tinha medo de não mais ter, ser e ter são coisas extremamente distintas, ele enchia o peito, apesar de nada falar, aquele era, sem dúvida alguma, o maior amor que ele já havia conhecido, e na plenitude daquele sentimento, não queria perdê-lo. Entretanto, entretanto, ele não pertencia a ela, ela não pertencia a ele; já não sabia mais a determinação precisa daquilo tudo, não sabia.
    Talvez ela fosse entender, talvez não fosse. Ele caminha na direção da cama, senta-se, e fala: eu gosto de ti o suficiente pra não querer te dividir com mais ninguém, e é, exatamente, por isso que não negarei a ti a liberdade que me dou, que me tenho; pense como será o dia em que me deixar, porque as pessoas se deixam, cedo ou tarde; você é o sexo mais indefinido que já conheci, você é o sorriso mais desproposital que já reparei, você é o silêncio do meu acordar, você é o bagunçar de cabelos mais desponderado que já gostei, você é o abraço menos demorado que já desejei, você não sabe como definem um alguém pra um alguém; sempre, com certeza, sem qualquer dúvida, te levarei do meu jeito mais sincero, mesmo quando estiver mentido, mesmo quando omitir, você será a minha bela, minha gostosa, minha... Porque é exatamente assim que te quero, sabendo que todo dia vou te conquistar. Ele levanta, beija-a na boca, puxa delicadamente os cabelos, aperta-a na nuca, e quando sente que não mais poderia dizer que não, fala: essa escolha de ser só minha deriva excessos que ainda desconhece, não sou de ninguém, mas não consigo te dizer que não quero isso em derivados dias, antes de dormir. Derivados não são todos, certamente não. Ele levanta da cama, suspira bem fundo, pensa por meio-segundo, e tira a camisa. 
    E a diz: amanhã defino meus amanhãs.
    

30 junho 2014

Copa


   Vejo pessoas falando que o Brasil tem que "começar a jogar!"
   Galera, futebol não é pingue-pongue, não é voleibol, não é handebol, não é basquete, nesse esporte o melhor nem sempre ganha(...).
   Lembrando da derrota do Brasil em 1950 para o Uruguai, mas mais recente, a épica vitória da Grécia (seleção mais horrível que já vi jogar, porém que jogou com espírito, teve o diferencial do futebol, a vontade, o comprometimento) sobre Portugal, que tinha o "super" Cristiano Ronaldo, não mais como promessa; Figo, grande armador e maior referência até então daquela seleção; Scolari, sim, Luiz Felipe Scolari, como técnico.
   Foi a parida mais injusta, mais sem-entendimento, mais dura, aos apreciadores desse esporte. A Grécia fez um gol aos 15 minutos, na sorte, e depois só se defendeu.

   ISSO É FUTEBOL, 

   CAROS AMIGOS.

01 junho 2014

Doze doses de liberdade.


Porque toda dose de amor, doze doses, liberdade. 

E por ele, não se restringe.

Não.

Não é por ele que o desejo deixa de desejar.
Doze, onze, dez, nove, um, não importa quantos parceiros.
Importa aquilo o que se quer.

O que realmente se quer.

Sequer doses tomei.
Mas doze,
Tomaria.

Sim.

Porque toda dose de amor, doze doses, liberdade.


26 maio 2014

Volta


  A volta seria muito mais fácil se fosse de forma positiva, mas não é. Nós estamos determinados, Wágner já estava decidido a tentar voltar, mas sem nada, absolutamente nada, nada além de saudade. Queria tantas coisas, tantos universos, tantos e tantos recomeços, tentativas, e "soltidões", e amarguras, e tristezas, e medos, e desafetos, e desabafos, e descarinhos, e querências.
  Wágner não sorri mais. O sorriso deu lugar a tudo o que ele mais temia, deu lugar à saudade; deu lugar ao que está, e sim, deu lugar ao que virá.
   Se fez um abraço, àquilo que passou, o dia em que ele decidiu não mais tentar sozinho, foi como decidiu, não só ele, o mundo quis, conspirou, afastou, matou. Nada mais importa, senão o piá que deu lugar ao homem que nada construiu, em absoluto, que afagou de maneira simples, tudo o que surgiu, e defendeu, arduamente, as opiniões que, muitas vezes, nem eram as dele. Já é tarde, sabe que é, porém sem certezas, porque todas as certezas passam, ele passou a não mais definir, exemplificar, entretanto, nunca, nunca definir, incondicionalmente, jamais teriam como julgá-lo, apesar de que todos o farão.
  Um homem nunca vai embora sem nada deixar, ele deixa muito do que viveu, muitas partes, lembranças e aprendizados, deixa o pior e o melhor dele, aquilo o que nunca disse é que não pertencia a esse lugar, e que de forma medrosa, escondeu-se, daquilo que era um abismo, um lugar não-dele. Aprendiz de um lugar onde nunca quis estar, aprendeu. Entendeu melhor as verdades, preteriu algumas delas, guardou, sonhou, tentou. 
  É necessário o entendimento de um amigo, como aqueles que Wágner deixou, e que esqueceu, e que não mais tinha, voltava, felizmente ainda vivo, onde o vivo não era figura de linguagem, era real.
  Ninguém entendia, nem mesmo Wágner, a necessidade do pleonasmo de tão demorar naquela caminhada. Na visão daquele que mais o via como triunfante, nem mesmo ele, o acreditava mais.
  Ficasse feliz com as voltas que sua existência deu, mas não via aquilo, dando sim, a ideia de merecimento, subitamente, memoravelmente, não foi aquele o planejado.
  Nem mesmo a velocidade contava mais, pois sabia, que a sua velocidade era ímpar, era lenta, quase nua, quase. Não coexistia com tudo aquilo o que Wágner delimitou. Pensava-pensava, e de tudo o que perdeu, ganhou, ganhou nada do que se pudesse levar, ganhou lembranças, e baseado nos acontecimentos desafortunados que somados às mágoas que deixou, levava nada além de meia-dúzia de pessoas; daquela menina, daquele homem, daquele amigo, e daquele outro, e mais um ou dois. 
  
   Nem sabe-se aonde vai. Porém, sabe que vai, vai, mas quantas voltas a vida dá?

10 maio 2014

Fatos


   Quem foi que estabeleceu as regras? Da onde tiraram uma palavra tão sem nexo e noção. Tá, estabeleceu-se uma determinada regra a ser seguida. Regras de convivência, regras de trânsito, regras de carícias, regras de tempo, regras de paixão, regras de respeito, regras de como beber, regras de etiqueta, regras. Até regras sexuais? Sexo tem uma regra? Uma ordem? Uma forma como gosta-se mais, talvez um tanto abrangente... mas isso é também é uma regra? Primeiro isso; depois aquilo; tem o tempo tal pra isso; tempo tal pra aquilo; isso não posso na primeira vez; aquilo, aquilo, aquilo... Que tanta regra vocês têm na vida. Gosto do apreço e da forma como agem, caso o meu querer, "não, mas isso não posso, porque a regra"...
   Façamos mais aquilo o que tivermos vontades, menos o que a regra lá diz. Dadas as assimilações de tempo, de necessidade, de desejo, de entendimento, de saudade, e sim, a saudade pode ser de um dia só, ela não tem uma regra. Meu tempo não é igual ao de mais ninguém, eu pediria ao universo que nosso dia tivesse vinte e sete, vinte oito horas, porque funciono melhor depois que o silêncio que tenho é só meu e daqueles que escolho a meu lado, porque acho vinte e quatro horas um número muito pequeno de horas, talvez por isso venha dormindo tão pouco.
   Nossos pais são nossos mestres, nossos filhos nos ensinam, nossas mulheres e homens são nosso tempo bom, nossos amigos são aquilo o que escolhemos, nossos sorrisos são com quem os merece, nossas verdades são para serem expostas, será? Regra é que a mentira passou a ser uma parte, estabeleçamos a regra de não mentir, lembrando que a omissão também é uma mentira, mentir é fugir daquilo o que se é. 
   As nossas regras somos nós que fizemos. Às verdades, quero sorrisos; às mentiras, solidão. Aos abraços, quero saudade; aos sorriso, gratidão. Às certezas, quero vivências; aos amantes, quero verdades; Às saudades, solidão.
   O mundo está como nesses últimos dias? Porque a lua... Porque o sol... Porque ela... Porque ele... Façamos das nossas certezas, não uma regra, certezas vêm e vão, acreditem. Tudo aquilo o que pré-determinamos, está errado. O estabelecimento, as determinações, não precisam de um porquê, regras pré-estabelecidas, não me representam, até mesmo as leis; façamos aquilo o que acreditemos. Tenhamos fé, não naquilo o que determinaram que fosse, mas naquilo o que aos nossos olhos serve de fato.

08 maio 2014

Passarela


   Foi como num passe de mágica. Entrou, rápida e bravamente, e saiu. Foi um desgosto tão gostoso que a prova foi o meu amor, à prova de banhos e fomes, fiquei ali, sentado, esperando que aquilo tudo fosse mesmo como num passe de mágica. Mas não foi. Segurei o choro, abracei-me nos cacos caídos ao chão, firme. Costumeiramente, a ofensa, seja ela qual for, não merece ser dita, é mais triste pensar, porém o dizer, desencanta, ofende, dói. Não porque não sejamos dissidentes sobre a opinião de outrora sobre nós, entretanto a forma ofensiva faz de ti um perdedor, não pela falta de argumentos, porém não pela premissa dada, e sim, pela alegação nociva de um ponto-de-vista pessoal. Inócua é a forma do debate entrelaçado, onde dize-se, confronta-se, mas não se foge com a perpétua harmonia e com o respeito, pré-estabelecido, entre aqueles que são problemas, ainda mais àqueles que são solução. Ali, exatamente ali, era deveras um ponto final. Das loucuras mais insensatas, sinto-me feliz. Passou, como já esperava. E nem rende-me lembranças, nem saudade, nem sofrimento, ou aflição. Deixo-me. Deixo-me quieto, contente, foram meia-dúzia de dias tão sem-explicação. Derivo como o próprio fim do início que nunca teve. Lascivo e demente, exultante, na prescrição mais árdua do sentido. E sem saudade. Sem mais percalços, foi devido, dado que preferistes ouvir, ou invés de sentir.
   Diminuíste o desejo próprio de constatação de usurpar e de molejar, no frio que faz aqui fora, nem necessidade tenho mais de casaco. Acordado, às 4:21 da manhã, lembro que a hora passou, a passarela não veio, o convite era de conhecer lugares novos, era de apresentar-lhe lugares já conhecidos, fiz aquilo tudo por anseio mal-compreendido de um dia que deixou de ser. Nem pude ter saudade, dos planos que não foram, nem das lembranças, daquelas que quis ter, fiquei infeliz por ter acabado o breu, e lembrei-me que dizes que fico "mongol" quando uso... É, é, talvez seja saudade!

07 maio 2014

Eu te amo


   Um exemplo não é determinar como as coisas são. É como estão sendo, como foi...

   As coincidências não deixaram de acontecer, apenas deixamos de percebê-las.

   Queria. Queria um dia só teu; me pergunto se a opinião do resto do mundo importa, tem alguma, ou qualquer, real importância. Parei. Parei de tentar resolver tudo o que me envolve, ouvi que no silêncio é um tom de deixar, deixar ter saudade, deixar tremer, deixar solta. Queria uma tarde só tua; cozinhar, falar, ouvir, me impressionar. Queria uma noite só tua; me impressionar, tocar, abraçar, beijar, cheirar, apertar, morder, lamber, sentir, suar; será? Com dizeres de liberdade, de sinuosidade, de humildade, de sagacidade, de suavidade; nada suaves, totalmente livres e sinuosos, bem sinuosos.
   
   A ideia era ser só teu, e sem propriedade, por escolha, ser teu, porque tu me basta, queria também te bastar. Queria não, quero. Quero não sorrir sempre que tu passar, quero não morrer de medo de me apaixonar, quero o teu abraçar, o teu silenciar, os teus dizeres, os teus gemidos, os teus; quero, quero, e quero outra vez; só tu.

06 maio 2014

Ela veio.

Ela foi...

"Nossos",

Passaram a serem seus e meus,

Nem sorrisos, nem olhares.


Demorou.

Foi.

É.


Não lamento.

Compreendo.

Desde antes,

Já compreendia.


O que ela iria querer comigo?

As pessoas comumente pensam:

Que triste que foi.


Penso,

Verdadeiramente,

Saudosamente;

Não troco por nada.

Valor

 - Quais são seus medos? Pergunta o psicólogo.

     Wágner ri; faz aquela cara que seguidamente faz, e responde:

 - Perder a visão, ou a audição, mas nada comparado ao tato ou ao paladar. Paladar porque o gosto das coisas, é muito maravilhoso, gosto do beijo, muitas pessoas não pensam assim; Tato, porque nada se compara a sentir calor ou frio, gelado ou quente, o toque; A audição, porque gosto muito de música, e de gritos, mas não de reclamação, desses desgosto; e a visão, porque o nascer e o pôr-do-sol são um misto de coisas não representadas pela paz de espírito, nos piores dias, ele acalma, nos melhores dias, ele acalma também. Sinto como se o meu coração precisasse se acalmar, tudo anda muito movimentado dentro de mim, tenho dias mais longos e mais curtos do que gostaria, e sei que o senhor não vai entender exatamente, mas se baseia muito no meu excesso de amor, ando amando demais. Hoje, por exemplo, acordei às sete horas, e só fiquei tranquilo quando abri os meus olhos e vi que ela estava lá, só sei definitivamente que depois que fiz o café da manhã para meus filhos, coloquei algumas coisas numa bandeja e levei café para ela, agradeceu-me quatro vezes, mas não gosto muito de agradecimentos, não sei porquê. Pensei como expressar-me naquele momento depois que ele já tinha passado, pensei-pensei e nada vinha à minha mente. Deitei na cama, enquanto ela comia, ofereceu-me, agradeci. Mas não queria nada comer, queria mesmo é ficar ali, especificamente ali, parado, olhando aquilo que via, surpreso, com o comum-
-belo que via, não vou dizer o que era porque não tem como adjetivar, tive um café da manhã maravilhoso, duas vezes, e não comi nada. O senhor entende?

     Uns minutos depois a consulta acabou, o psicólogo recomendou que Wágner viesse mais vezes, porque excesso de amor é um grande problema quando nos sobram adjetivos e definições, mas não quando faltam, isso significa que não precisava de nada além de alguém para conversar, o rapaz não sabia o porque disso, pensou. Se era normal e estava normal, porque tinha que voltar?

     Logo na saída do consultório então perguntou. E a resposta foi:
- Você não precisa, voltas se quiser!

     Faço terapia há dois anos com outros psicólogos e nunca tinha sido tratado com tamanha desimportância, senti-me quente com aquela banal resposta de um "tratador de seres-humanos". Voltei por mais oito meses, e ele faleceu. Contei aquilo para todos no seu enterro, achei a mais verdadeira história de quem ele era, um psicólogo, mas, antes disso, um "desimportador" para que as pessoas a sua volta soubessem da importância que tinham, esperava com maestria a consciência de cada um.
    Não faço tratamento desde então. Porque é vazio sem aquele nobre velhinho. Casei-
-me dias depois que iniciamos o meu tratamento; ele disse que amar passou a ser a solução daquilo o que chamava de vida, não pensei duas vezes em pedi-la em casamento naquele mesmo dia. Casamos ao pôr-do-sol, o psicólogo foi um dos padrinhos; e até hoje choro quando vejo as fotos daquele que deu-me significado aos nasceres e aos pores-
-do-sol, deu-me significado a ouvir a música ainda mais alta sempre que acordo; deu-me significado a sentir a respiração dela, a sentir seus olhos nos meus; deu-me o desejo de provar as coisas, e mesmo quando ao desprazer deparar-se, sempre experimentar o gosto que tudo o que existe tem. Deu-me certezas, passei a escolher outros poréns com o tempo, mas sempre valorizar àquilo o que passou...


29 abril 2014

Polis


Ela impressiona,
Dentro do próprio jeito de um dia acordar,
Amanhecer passou a ser...

Assim como ver,
Passou a não-sombrear;
Olhar,
Tremer;

Saudades,
E mais saudades;
Sorrisos,
E mais sorrisos;

Trejeitos,
Encanto,
Silêncio não-inocente.

Você se lembra como é se impressionar?

20 abril 2014

Poli



    "A sua loucura parece com a minha(...)" Clarice Falcão.

    Poli é a assimilação mais derivada do sentido do sorriso que sinto quando brilha em azul a conversa que já não existia e que voltou a existir.
    
    Não me confundo, não tenho medo, sei por diversas coisas que muito pouco, quase-
-nada, sei a teu respeito, mas daí, fica azul, outra vez, e não posso não responder. Cria-
-se outro assunto, e impressionado fico! E logo mais, outro assunto, depois outro, e outro, e já são uma da manhã...
    
    E a definição exata disso é: impressionado. 

    Não sei a última vez que não sabia como definir coisa qualquer além de: definitivamente impressionado.

Todos os ditos, são como a matemática, a resposta é uma só, o entendimento é exatamente aquilo, entendo o que leio de uma forma que não sei, mas é, sinto que é. E fico: impressionado; outra vez.
    
    Qual será o dia que falaremos de música, religião, poemas, esportes, animes, drogas, tempo de beijo e sexo, com alguém? Impressionado é a palavra mais pluri-definida para uma palavra só.
    
    Simples, derivado, mas simples e real; simplesmente IMPRESSIONADO.

    Você se lembra como é se impressionar?

19 abril 2014

Excesso


   Só vemos falta de amor, FALTA, falta de carinho, de respeito, falta de amor nas pessoas todas; falta, falta de amor...


    As pessoas parecem não se importar; outras se importam demais. Mas aquilo o que ouvimos por aí: elas se importam quando lhes é necessário.


Prognóstico da nossa geração, vinte-trinta anos: falta. Não quero um mundo mais cheio de pessoas, mas mais vazio nas relações, é tão desnobre educação de mais e opinião de menos. Não?
  
    As realidades implicam, e "blá-blá-blá", mas o mundo sempre foi assim??
Tornamo-nos cheios; cheios de ocupação, de problemas, de coisas a serem feitas, de sorrisos já prontos, de importâncias pré-estabelecidas. Onde briga-se por opiniões diferentes, porém não se aproxima pela falta de tempo que as pessoas parecem "estar". 


    Qual foi a última vez que você contou a um desconhecido de um bom livro? Ou uma história de amor que deu errada? Ou um programa de televisão que você gosta? Ou de seu gosto musical?

    O jeito do mundo não mudará se vocês não começarem daqui, do SEU UMBIGO. Comece!


    Ficou, passou, era, foi assim... não viva num passado perdido. Viva naquilo que ainda te faz feliz, mesmo que aquilo seja só teu, dê sentido, faça acontecer, brigue e se oponha SEM querer ser dono da verdade, faça sem esperar.

    O nosso mundo não é colorido, mas colorível por nós. Antes de julgar o todo, façamos também algo de verdadeiro, de nosso, de troca de carinho, acreditemos nas pessoas e naquilo o que elas podem nos agregar, nos dar, sem valor, sem procurar ganhar em cima, e mais, com respeito, essa é uma das tantas coisas que faltam. Acorde e chamegue, abrace seus pais, seus filhos; sorria, abrace, beije, morda, mas, antes de tudo, respeite pela única certeza de que a partir hoje você também pode colorir o seu mundo.

10 abril 2014

"Escrevinhador"


"Escrevinhava", "escrevinhava"...

Vinha a dor,

Mas era polida de calor.

Lembrava.

E quando falava dela,

Falava com carinho,

Mesmo não devendo ter.

Era não-jus a maneira como ela não o lembrava,

Nem sua idade,

Nem seu sorriso,

Nem das horas que teve,

Nem dos dias que veio,

Nem dos finais-de-semana que passou.

Decidi-me por "escrevinhar",

Porque não há dor,

Sem lembrar do ar.

12 março 2014

Mestre!

Canção que nos faz lembrar de muitas histórias passadas, 
De erros e acertos de uma vida que talvez não suja mais nossa,
Pelo tempo, pelas escolhas, pela família, pelas descrenças, por segundos, 
Pela fragilidade de uma vida que a gente escolheu.
E que todos escolhem, todos os dias...

Somos escolhas de um tempo passado, 
Somos certezas que se vão, 

Somos conjunto dos conjuntos que foram,
Daqueles sorrisos que já não são mais.

Foram verbos ditos,
De lembranças que rimos...

Vazio é o tempo,
Daquele que não lembra mais.


05 março 2014

Cala,
Fala-cala,

Sombra,
Sombra quente.

Veemente,
A descrença daquele que crê.
 
Sua religião é amor?
E pras outras, não?

Talvez Deus gostaria mais de sorrisos, 
Mais de fé,
Mais de amor,
Mais de realidade!

Religião é prazer,
É respeito,
É gratidão,
É responsabilidade.

De ser aquilo o que escolhemos ser,
Com Deus,
Se esse for seu nome...
Na paz em que se sente.

No sorriso, 
Descrente,
E não somente,
Daquilo o que mandam gozar.

06 fevereiro 2014

Assim, ó!

E volto a dizer...

Não sou propriedade de ninguém,
Não quero nem o bem, de quem não merece,
Não quero nem o mal, de quem!? 


Políticos, façam o melhor, 
E aprendam, o melhor não é só pra si mesmo!


Policias, esse país é uma mentira,
E vocês sim, fazem parte dele, 
Tão ou mais do que alguns! 


Palhaços, até aonde vai a sua palhaçada? 
Saiam logo daqui,
Desprender-se não é pecado.


Desprenda-se de tudo aquilo que te diminui,
De tudo aquilo que te prende,

O que a sociedade vende,

Que o Papa rouba,
Que o Ministro arrecada,
Que o ladrão leva!


Vá a pé,
Vai, venha. Vai e vem,

E saiba o seu porquê!

Não sou propriedade de ninguém.

Respeito é o que tem.

Ganhe um abraço,
Ao invés de metade do salário de quem trabalhou pra isso,
De segunda a sexta, político sem-vergonha,
Não roube de quem já não tem.


Não sou propriedade de ninguém!


01 janeiro 2014

Monólogo


    Atravessa o palco, a fumaça e o cheiro, a ardência, e quem estava mais próximo pode sentir o calejar, o pingar dos olhos, Wágner não chorava, era o medo, naquele início de noite seria algo um tanto atípico para ele. Respira fundo. Então, começa a sua apresentação, não-ferozmente, diferente daquilo o que Patrícia, escritora da peça, disse-
-lhe: sobrepuje-se como faz o bem-te-vi, seja perceptível, mas preze também pela delicadeza das formas de expressão, que fique saudade, no público, ao fim. Sentarei na última cadeira, na última fileira; e quero sentir-te, não-banalizadamente, quero de você o que vi em seu último ensaio.

    Foi seu dito, momentos antes daquilo tudo começar, mas ele não entendia como aquilo batia à sua cabeça... Ele buscava, rebuscava; e no acender das luzes, não conseguia mexer-se. Ascende à ideia de que Patrícia jamais o desculparia, sentiria-se traída, mas com tantos olhando para si, como poderia? Havia esquecido por onde começar. Sabia que já fazia algum tempo que estava ali, o sorriso das crianças passara, os olhos dos adultos eram desentendimento, Wágner os olhava fixamente e, simplesmente, não se lembrava da primeira frase de seu texto, não sabia como agir perante a tal situação... suas mãos suavam, ele fecha os olhos, e por alguns instantes sente-se calmo, engole saliva, respira bem fundo e abre os olhos.

    E não entende, ainda sente seu coração bater virilmente; descrente de entendimento, suado, repara que acabou de acordar, daí respira, acalma-se e pensa, definitivamente, Patrícia nunca me perdoaria se fosse real.