10 maio 2014

Fatos


   Quem foi que estabeleceu as regras? Da onde tiraram uma palavra tão sem nexo e noção. Tá, estabeleceu-se uma determinada regra a ser seguida. Regras de convivência, regras de trânsito, regras de carícias, regras de tempo, regras de paixão, regras de respeito, regras de como beber, regras de etiqueta, regras. Até regras sexuais? Sexo tem uma regra? Uma ordem? Uma forma como gosta-se mais, talvez um tanto abrangente... mas isso é também é uma regra? Primeiro isso; depois aquilo; tem o tempo tal pra isso; tempo tal pra aquilo; isso não posso na primeira vez; aquilo, aquilo, aquilo... Que tanta regra vocês têm na vida. Gosto do apreço e da forma como agem, caso o meu querer, "não, mas isso não posso, porque a regra"...
   Façamos mais aquilo o que tivermos vontades, menos o que a regra lá diz. Dadas as assimilações de tempo, de necessidade, de desejo, de entendimento, de saudade, e sim, a saudade pode ser de um dia só, ela não tem uma regra. Meu tempo não é igual ao de mais ninguém, eu pediria ao universo que nosso dia tivesse vinte e sete, vinte oito horas, porque funciono melhor depois que o silêncio que tenho é só meu e daqueles que escolho a meu lado, porque acho vinte e quatro horas um número muito pequeno de horas, talvez por isso venha dormindo tão pouco.
   Nossos pais são nossos mestres, nossos filhos nos ensinam, nossas mulheres e homens são nosso tempo bom, nossos amigos são aquilo o que escolhemos, nossos sorrisos são com quem os merece, nossas verdades são para serem expostas, será? Regra é que a mentira passou a ser uma parte, estabeleçamos a regra de não mentir, lembrando que a omissão também é uma mentira, mentir é fugir daquilo o que se é. 
   As nossas regras somos nós que fizemos. Às verdades, quero sorrisos; às mentiras, solidão. Aos abraços, quero saudade; aos sorriso, gratidão. Às certezas, quero vivências; aos amantes, quero verdades; Às saudades, solidão.
   O mundo está como nesses últimos dias? Porque a lua... Porque o sol... Porque ela... Porque ele... Façamos das nossas certezas, não uma regra, certezas vêm e vão, acreditem. Tudo aquilo o que pré-determinamos, está errado. O estabelecimento, as determinações, não precisam de um porquê, regras pré-estabelecidas, não me representam, até mesmo as leis; façamos aquilo o que acreditemos. Tenhamos fé, não naquilo o que determinaram que fosse, mas naquilo o que aos nossos olhos serve de fato.

08 maio 2014

Passarela


   Foi como num passe de mágica. Entrou, rápida e bravamente, e saiu. Foi um desgosto tão gostoso que a prova foi o meu amor, à prova de banhos e fomes, fiquei ali, sentado, esperando que aquilo tudo fosse mesmo como num passe de mágica. Mas não foi. Segurei o choro, abracei-me nos cacos caídos ao chão, firme. Costumeiramente, a ofensa, seja ela qual for, não merece ser dita, é mais triste pensar, porém o dizer, desencanta, ofende, dói. Não porque não sejamos dissidentes sobre a opinião de outrora sobre nós, entretanto a forma ofensiva faz de ti um perdedor, não pela falta de argumentos, porém não pela premissa dada, e sim, pela alegação nociva de um ponto-de-vista pessoal. Inócua é a forma do debate entrelaçado, onde dize-se, confronta-se, mas não se foge com a perpétua harmonia e com o respeito, pré-estabelecido, entre aqueles que são problemas, ainda mais àqueles que são solução. Ali, exatamente ali, era deveras um ponto final. Das loucuras mais insensatas, sinto-me feliz. Passou, como já esperava. E nem rende-me lembranças, nem saudade, nem sofrimento, ou aflição. Deixo-me. Deixo-me quieto, contente, foram meia-dúzia de dias tão sem-explicação. Derivo como o próprio fim do início que nunca teve. Lascivo e demente, exultante, na prescrição mais árdua do sentido. E sem saudade. Sem mais percalços, foi devido, dado que preferistes ouvir, ou invés de sentir.
   Diminuíste o desejo próprio de constatação de usurpar e de molejar, no frio que faz aqui fora, nem necessidade tenho mais de casaco. Acordado, às 4:21 da manhã, lembro que a hora passou, a passarela não veio, o convite era de conhecer lugares novos, era de apresentar-lhe lugares já conhecidos, fiz aquilo tudo por anseio mal-compreendido de um dia que deixou de ser. Nem pude ter saudade, dos planos que não foram, nem das lembranças, daquelas que quis ter, fiquei infeliz por ter acabado o breu, e lembrei-me que dizes que fico "mongol" quando uso... É, é, talvez seja saudade!

07 maio 2014

Eu te amo


   Um exemplo não é determinar como as coisas são. É como estão sendo, como foi...

   As coincidências não deixaram de acontecer, apenas deixamos de percebê-las.

   Queria. Queria um dia só teu; me pergunto se a opinião do resto do mundo importa, tem alguma, ou qualquer, real importância. Parei. Parei de tentar resolver tudo o que me envolve, ouvi que no silêncio é um tom de deixar, deixar ter saudade, deixar tremer, deixar solta. Queria uma tarde só tua; cozinhar, falar, ouvir, me impressionar. Queria uma noite só tua; me impressionar, tocar, abraçar, beijar, cheirar, apertar, morder, lamber, sentir, suar; será? Com dizeres de liberdade, de sinuosidade, de humildade, de sagacidade, de suavidade; nada suaves, totalmente livres e sinuosos, bem sinuosos.
   
   A ideia era ser só teu, e sem propriedade, por escolha, ser teu, porque tu me basta, queria também te bastar. Queria não, quero. Quero não sorrir sempre que tu passar, quero não morrer de medo de me apaixonar, quero o teu abraçar, o teu silenciar, os teus dizeres, os teus gemidos, os teus; quero, quero, e quero outra vez; só tu.

06 maio 2014

Ela veio.

Ela foi...

"Nossos",

Passaram a serem seus e meus,

Nem sorrisos, nem olhares.


Demorou.

Foi.

É.


Não lamento.

Compreendo.

Desde antes,

Já compreendia.


O que ela iria querer comigo?

As pessoas comumente pensam:

Que triste que foi.


Penso,

Verdadeiramente,

Saudosamente;

Não troco por nada.

Valor

 - Quais são seus medos? Pergunta o psicólogo.

     Wágner ri; faz aquela cara que seguidamente faz, e responde:

 - Perder a visão, ou a audição, mas nada comparado ao tato ou ao paladar. Paladar porque o gosto das coisas, é muito maravilhoso, gosto do beijo, muitas pessoas não pensam assim; Tato, porque nada se compara a sentir calor ou frio, gelado ou quente, o toque; A audição, porque gosto muito de música, e de gritos, mas não de reclamação, desses desgosto; e a visão, porque o nascer e o pôr-do-sol são um misto de coisas não representadas pela paz de espírito, nos piores dias, ele acalma, nos melhores dias, ele acalma também. Sinto como se o meu coração precisasse se acalmar, tudo anda muito movimentado dentro de mim, tenho dias mais longos e mais curtos do que gostaria, e sei que o senhor não vai entender exatamente, mas se baseia muito no meu excesso de amor, ando amando demais. Hoje, por exemplo, acordei às sete horas, e só fiquei tranquilo quando abri os meus olhos e vi que ela estava lá, só sei definitivamente que depois que fiz o café da manhã para meus filhos, coloquei algumas coisas numa bandeja e levei café para ela, agradeceu-me quatro vezes, mas não gosto muito de agradecimentos, não sei porquê. Pensei como expressar-me naquele momento depois que ele já tinha passado, pensei-pensei e nada vinha à minha mente. Deitei na cama, enquanto ela comia, ofereceu-me, agradeci. Mas não queria nada comer, queria mesmo é ficar ali, especificamente ali, parado, olhando aquilo que via, surpreso, com o comum-
-belo que via, não vou dizer o que era porque não tem como adjetivar, tive um café da manhã maravilhoso, duas vezes, e não comi nada. O senhor entende?

     Uns minutos depois a consulta acabou, o psicólogo recomendou que Wágner viesse mais vezes, porque excesso de amor é um grande problema quando nos sobram adjetivos e definições, mas não quando faltam, isso significa que não precisava de nada além de alguém para conversar, o rapaz não sabia o porque disso, pensou. Se era normal e estava normal, porque tinha que voltar?

     Logo na saída do consultório então perguntou. E a resposta foi:
- Você não precisa, voltas se quiser!

     Faço terapia há dois anos com outros psicólogos e nunca tinha sido tratado com tamanha desimportância, senti-me quente com aquela banal resposta de um "tratador de seres-humanos". Voltei por mais oito meses, e ele faleceu. Contei aquilo para todos no seu enterro, achei a mais verdadeira história de quem ele era, um psicólogo, mas, antes disso, um "desimportador" para que as pessoas a sua volta soubessem da importância que tinham, esperava com maestria a consciência de cada um.
    Não faço tratamento desde então. Porque é vazio sem aquele nobre velhinho. Casei-
-me dias depois que iniciamos o meu tratamento; ele disse que amar passou a ser a solução daquilo o que chamava de vida, não pensei duas vezes em pedi-la em casamento naquele mesmo dia. Casamos ao pôr-do-sol, o psicólogo foi um dos padrinhos; e até hoje choro quando vejo as fotos daquele que deu-me significado aos nasceres e aos pores-
-do-sol, deu-me significado a ouvir a música ainda mais alta sempre que acordo; deu-me significado a sentir a respiração dela, a sentir seus olhos nos meus; deu-me o desejo de provar as coisas, e mesmo quando ao desprazer deparar-se, sempre experimentar o gosto que tudo o que existe tem. Deu-me certezas, passei a escolher outros poréns com o tempo, mas sempre valorizar àquilo o que passou...