26 fevereiro 2013

Exatidão


Pouco. Muito. Já escrevi-escrevi sobre muitas coisas, mas não sobre definições.
Pouco é uma palavra adjetiva, mas tende-se a achar que qualquer coisa pouca é pouco. E se fosse pouco amor? Poucas palavras, poucas vezes, poucas opções, demonstração, pouca exatidão...
Pouco nem sempre é pouco. Poucos realmente se importam, isso não é pouco. Muitos falam muitas coisas, mesmo sem saber, ou por acharem que sabem. Pouca mentira, pouca omissão, será isso pouco também? Tudo bem, convenhamos que pouca atenção, ou pouco carinho ainda seja pouco, mas que nem sempre pouco seja pouca coisa. Falar que se deu pouco, bebe pouco, ou transa pouco, fatidicamente, isso é pouco. Assim como, muito respeito, muita saudade, muita compreensão, seja muito, mas podres daqueles que querem entender os nossos poucos ou muitos. São sensações de muito, mesmo sendo pouco, e de pouco, mesmo sendo muito, são sentimentos próprios, mas se sente sobre esses determinados sentires. Então, descrevê-los não seria de fácil assimilação pros demais, talvez nem a percepção pode-se dizer, talvez só ela. Uma espécie de definição abstrata, relativizada, sem coordenação, ou explicação, não se sabe explicar, jamais definir. Tão surpreendente, tão diferente, ou comumente, indefinidamente, não seria pragmatismo dizer, ou talvez um impulso, desordenado, verdadeiro, singular, uma verdade sem definição comum, prolixa, adverbial. Depois de tantos possíveis talvezes, de poucas definições, de muitas dúvidas, concluo que não há sentido nem mesmo na exatidão, ou na definição, até mesmo na crueldade, ou na bondade. Acredita-se porque acredita-se, senti-se porque se sente, nem tudo o que transparece, é, nem tudo o que é, transparece ser. A gente se guarda, sabiamente, muitas vezes, e nas vezes em que se procura um significado, que certeza seria essa, entende? Muito nem sempre é tanto quanto nós gostaríamos, pouco nem sempre é o pouco que negaríamos, tudo conspira quando for aquela pessoa que tu realmente quiser, Anitelli dizia: "os opostos se distraem, os dispostos se atraem", mas talvez se a oposição fosse uma forma nem tão "pouca", e se a disposição não fosse uma forma nem tão "muita", o que quero referenciar é uma que, seja qual for a forma de definição, ela nunca será exata. A definição comum dá uma ideia, mas não concretiza a total transparência, a profundidade, ou a assiduidade, de um fato pra cada ser, cada um contará uma história, com meios diferentes, com diferentes adjetivos, advérbios. A história nunca, nunca é a mesma, depende de quem a escreve, de quem a diz, de quem a vive, de quem a define.