23 julho 2014

Sonho


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   Ela falou-lhe do sonho que mal lembrava, só lembrava que era com ele e que dançavam, e que ele dançava bem; ele ri, mas, despropositadamente, não sabe como reagir; e como num mundo um tanto inimaginável, imagina. Não a dança, porém o som que tocava, que tocava não só aos ouvidos, o som que se sentia, o molejo que rebuscava em si, o entrelaçar. Lembrou-se então que nem sabia dançar, que tentava, vez-ou-outra, entretanto, definitivamente, não sabia. A música que tocava, o olhar que recebia, o fim do musical, como era? Como seria o som?  O som do seus olhos, do calor, do calar, do sorrir - se tinham olhares, se tinham sorrisos - como tinha sido?
  Era desorientado, e era isso o que ele mais gostava. Muitas pessoas já haviam sonhado com ele, mas ela sem conhecê-lo, o fez atilar sentido naquilo; como seria?
  Como seria sonhar com pessoas que nem conhecemos? Como seria? A altura, o cheiro, o sorriso, a impetuosidade, e o principal, como seria dançarem?  Como teria sido dançar com ele? Disso era só o que ela lembrava, mas não o falou. E como seria dançar para ele, porque na vida real, era assim que seria!? Ela não lembrava do fim do sonho, afinal, no acordar, não lembrar de um sonho é bem plausível; porque na vida real, saberíamos como acabaria... Que devaneio prazeroso de imaginar como seria. Caso fosse ilusão, que utopia. Caso anseio, que idílio formoso é magicar, também utopia?
   Sim, era um sonho. Ela nem sequer sabia qual era altura dele, ou sua voz, seu sorriso; nem sequer sabia que ele não sabia dançar, ou como não sabia requebrar ordenadamente, não sabia; excogitação, por tempo vago, intento.
  Eles nem, ao menos, se conheciam, mas se imaginavam, tocavam um ao outro, sem se tocarem. Como seria dançarem? A definição é tão cruel quanto um pássaro que perde as asas, ou um elefante que perde a tromba; ela nem sabia que ele não sabia dançar, mas tentaria certamente; porque depois de pisar sobre o pé dela algumas vezes e desistirem da dança... como seria?