13 agosto 2014

Porquês


    Eram onze horas, ele gostava de acordar tarde aos domingos. Espreguiçou-se, daquelas espreguiçadas bem longas, dormira tão mal essa noite, que ainda tinha sono. Levanta-se para o café do meio-dia, banho rápido, escova os dentes, e olhou-se no espelho: Que noite mais "acordada", nossa! Entretanto, não era um sonhar tão imaginativo assim, só um tanto longínquo aquilo tudo. Ao menos o que lembrava, e até tentava não lembrar, porém não conseguira. Vindas experiências, tão malucas e doces, fulgurantes e débeis, e um tanto afáveis, definidamente, e que se partilhasse, uns chorariam, outros aplaudiriam, porque nem mesmo ele, sabia como lidar. Mas, afinal, por quê?
    Delinear, o parecia tão minimizar o que passara, tanto pelas pseudo-aulas, quartas-
-feiras à noite, quanto a generalizações de formas quaisquer; sobre aquele sobressalto de tempos atrás, preferia dizer que tinha bebido, ou que havia usado qualquer outra coisa, ou que era uma sacanagem dos amigos e que esquecera seu Facebook aberto, a dizer que da falta que sentia, sem qualquer explicação, até a falta que sentia, o entristecia, nem sempre a tristeza é algo ruim. Mas, afinal, por quê?
    Foi a melhor coisa da vida dele, deixar que fossem amados, pois não existia mais entre eles, ao menos a paixão, essa, certamente, já não mais. Talvez tivessem passado uns dez anos de tudo aquilo!? Ele guardou-a, como ela pediu-o que o fizesse. Entendia que não acresceria sentido voltar a procurá-la, nem sabia mais muito, ou coisa qualquer, sobre ela; nem seu telefone, se havia se mudado, como era seu novo trabalho - já existia algum tempo desse novo trabalho - se ela ainda tinha namorado, ela sempre namorava e ele odiava essa falta de amor-próprio, essa necessidade, ele passou a ser totalmente contra a monogamia desde o final da relação deles. E até apreciava isso, justamente pela ideia de "revolução", porque assim, não haveria mentiras, ele não precisaria nem sequer omitir.
    Saiu do banho, "carregado", não entendia o porquê.
   Lembrou-se, então, do calor que era dormir a seu lado, suavam, mas jamais, jamais soltavam-se, escorria suor, de ambos, porém não sentiam vontade, soltar-se pra quê? Ficavam juntos, do momento em que chegava, na sexta-feira, até o momento em que saia, no domingo, sempre. Tomavam banho juntos, escovavam os dentes juntos, cozinhavam juntos, lavavam a louça juntos, saiam juntos - todo o tempo juntos, todo o tempo. Como era viver sem ela? Perguntava-se aos domingos no fim do dia, sim, faziam dez anos já. Mas, afinal, por quê? Por que agora, por que dessa forma, por quê? Vai até seu armário, abre-o, veste-se, e olha pra gaveta bem de baixo, e lembra-se... Abre-a e relê as coisas "sub-doze anos" que escreviam-se.

  - Tão besta, não acredito que já fui assim.

    Cristalino, se fosse derivar só de uma forma como eramos. Mesmo com tudo, sabendo, vivendo, conhecendo hoje, os nossos erros e acertos, derivo-a com sorrisos, talvez derivá-la fosse diminuir tudo aquilo, porém lembra-te-ei, como pediu-me, naquela quarta-feira. Mas, afinal, POR QUÊ?