07 agosto 2014

Diálogos próprios (algum número)


  Perdão aos que não gostam de pontualidades.

  Sempre é um tempo muito derivado, a idade chega, as pessoas mudam, fato, mas pensemos nisso aqui...


  Ser linda nunca é bom, bonita sim, é legal, e tal, mas LINDA, realmente linda, não. Nessa sociedade em que vivemos, ser bela é um tanto comum, mas LINDA, sabem, lindíssima, isso não é muito legal, sei lá. Imagine viver com os homens a sua volta, sorrisos por beleza são tão mais frios, mais comuns, prontos, derivadamente ali, sempre... sei lá - de novo.
  Calmamente é uma exatidão um tanto pragmática, eu não saberia como reagir - Não me acho muito bonito. Mas aos realmente lindos, como é? Tipo, vocês sabem quando é real, quando há sinceridade naquilo o que foi dito, ou demonstrado? E aos não tão lindos assim, pensem, quem está ao seu lado, é por realmente gostar de vocês. Vendo assim, me sinto mais feliz por ter quem realize-se a meu lado, e vos digo, valorizem, porque a beleza passa, a curtição passa, mas o carinho, o respeito, a admiração, isso não, podemos ficar anos separados de algumas pessoas, mas sempre, sempre-sempre, elas terão a nossa admiração, o nosso respeito, o nosso cuidado. Imaginem quantos dos mais belos nunca terão aquilo o que vocês já tiveram... Nem por um segundo. É demasiadamente triste pensar assim, mas divirjo de que beleza seja fundamental, ao menos aquela comum, vista aos olhos, a beleza mais impressionante, é aquela que a gente nem pode explicar. O mundo é mais doce sem definições, afinal, elas mudam, as definições são tão pequenas quanto dizer que um átomo é indivisível, talvez há uns vinte, trinta anos, fosse, mas os "quarks" já redefiniram a química. O pronto não nos chama tanto a atenção. Não é aquilo que está, é o que vemos caminhar, não é parado que se chega; não, não é.
  Gosto de sentir aquilo o que talvez ninguém mais sinta, mas será que é assim que as pessoas se sentem ao lado daqueles que são realmente lindos? E como se sentem as pessoas que assim são? A beleza pode não ser algo muito bom, para aqueles que são em demasia, ao menos acho, sei lá - outra vez.

06 agosto 2014

Atipicidade?


  Ah, que saudade!

  Sonho, ou realidade? 

 O melhor era não delimitar, não determinar antecipadamente uma ideia, conhecer, experimentar; sorrisos, sorriso de saudade, sorriso de vontade, sorriso de não saber, sorriso.
  Era sorrindo que ele lembrava das coisas pelas quais passou, principalmente das que causariam constrangimento, e sim, eram daquelas que o faziam crescer, ou da bagunça das suas escritas jogadas ao chão, ou do horário tardio que sempre dormia, ou que apreciava mais a gentileza do que a beleza. 
  Não existe melhor pontuação do que os três pontos. Pelo que virá, certamente, ou pelo que já é conhecido pelos que ali estão. Não pela saudade, às vezes é um tanto cruel aqueles três pontos surgirem, porém mesmo dentro de crueldade qualquer, iniciasse ali uma nova etapa, e com um ponto final, indubitavelmente, acabaria. O ponto final é o fim. Talvez exclame, talvez pergunte, talvez virgule, ou mais uma vez... Era saudade o que não podia definir, eram os três pontos, justos da saudade; não tinha UM algo, nem dois, nem cinco, eram pontos dispersos, uma variedade, daqueles famosos TRÊS PONTOS.
  Essa saudade era tão grande, às vezes tão pequena, era quase despercebível. Era uma saudade das saudades que já tinha tido, que, de repente, passou a não mais ter. Tipicamente as pessoas se elogiam, elogiam o cabelo, os óculos, o sapato, a barriga, os olhos, o olhar, as sardas, mas depois de muito caminhar, a vivência mais concreta que ali estava, era aquilo o que cada um mais prestasse atenção. Ele; não eram abraços, não eram beijos, nem as conversas, vira e mexe ele falava coisas totalmente sem-sentido, tinha até diálogos bem próprios, às vezes; era do cheiro, não sei se alguns de vocês já viram o filme do assassino que diferencia o odor das coisas impressionantemente bem, Perfume - A História de um Assassino, e que afirma, fortemente, no filme, que cada um tem um cheiro diferente, enfim, o diálogo não era esse, me referia aos cheiros mais variados, e sim, determinantes, cheiros demonstrativos e convidativos que exalam durante algo, mas me referiria explicitamente a sexo; cada um tem um cheiro, um gosto, uma maneira de ser percebido, durante o ato em si. Ele nunca tinha escutado um elogio a respeito dele próprio relacionado a isso; e nos últimos tempos, surpreendentemente, já ouviu mais de uma pessoa falar. Isso o impressionava, afinal, ele nunca havia pensado realmente sobre esse ato em si. 
  Sentia falta do cheiro de uma determinada pessoa específica, sentia falta de um odor - estranho, eu sei - não sabia como definir, e essa saudade, era a saudade de quê? Saudade do gosto, das conversas, da convivência, dos risos, das brigas, do silêncio que não incomodava, ou talvez, do cheiro que enchia o quarto quando ela se deitava sobre a cama. 
  Depois de muito pensar, sobre aquela quantidade absurda de saudade, ele percebe, a saudade talvez não seja das saudades que deixou, talvez seja saudade da saudade que ainda não teve, entendem?
  São os três pontos que melhor definem uma afirmação assim. Não teve um ponto final, porque ainda não teve um fim. A exclamação também definiria corriqueiramente, assim como a interrogação, fechariam o texto, e ele ainda não está. Os três pontos definem de forma indefinida, sem saber aquilo que os espera. 

    Eis, é a vida.

  Onde definir seria minimizar o que está por vir, três pontos são o que os espera. É um possível começo, uma introdução. Já sabida pelo leitor, ou ainda, que será demonstrada. 
   
   (...)Logo a seguir.

04 agosto 2014

Personagem


   Era assim. Vinha sendo um personagem.
  Criava, juntava, sorria, era ele, exatamente ele; mas não era; não era nada daquilo o que imaginava quando criança, quando dos seus piores deméritos, nem sequer imaginava, aquilo pelo que passara, aquilo pelo que passou. Veio, veio forte, denso, pragmático, desolador, porém, estava tão mais forte, do que jamais esteve, ele, não só pela idade, não só pelos erros, também pelos acertos, também pela definição que escolheu. Pois sim, definição é escolha. E sim, as escolhas mudam. Entretanto, não era frio. Tinha, sempre, sempre-sempre, uma escolha pela qual definia-se. Descrédito, não demérito, demérito é crueldade consigo. E os amores, que deixou por escolha, nunca haviam feito tanta falta, cada qual, eram parte, tinham construído, aquilo o que se tornara; os deixou não por mudar de escolha, mas por encanto, por saber que mereciam mais do que derivadamente era seu. Entendia ele, o tamanho ínfimo que deduzia, que derivava; pelo livre, pela liberdade.
  Não, não seria mais ser menos, admitidamente; mas sim, seria menos fingir ser mais - isso aprendeu, dolorosamente. Via-se como pré-cambriano, perante a tanta era de degelo. Muito barulho, muita gente: meu cabelo; meu carro; meu dia; minha noite; meu bigode; minha família; minha história. "Estórias", de si próprios, e de si, consigo... Sem espaço para mais ninguém. O mundo tornou-se o umbigo, e nada além, nem tem-se tempo para nada mais, porque as relações, tornaram-se menores, meu eu é mais importante - já falei de mim?
  De repente, aquele mundo não era mais o dele, não pelo bigode, ou pelo cabelo, ou pela fila, ou-ou-ou, não, não tinha espaço naquele mundo, eram eles, e só; mas eles todos, sem generalizações, enfim, eram gente como a gente, gente como ele, que a ideia dele, nada tinham. Personagens. Vastos de si, ocupados consigo mesmos, o tempo que derivavam só, só para si mesmos. Eu. Meus. Cá. Aqui.
  Tornou-se o mundo que pertence a "eles", a eles outros. Só aquilo o que querem, como querem, assim que querem. E assim vão, sorriem, estacionam, comem, bebem e dormem. 

   "Parem o mundo que eu quero descer."

    - Já falei de mim?