06 agosto 2014

Atipicidade?


  Ah, que saudade!

  Sonho, ou realidade? 

 O melhor era não delimitar, não determinar antecipadamente uma ideia, conhecer, experimentar; sorrisos, sorriso de saudade, sorriso de vontade, sorriso de não saber, sorriso.
  Era sorrindo que ele lembrava das coisas pelas quais passou, principalmente das que causariam constrangimento, e sim, eram daquelas que o faziam crescer, ou da bagunça das suas escritas jogadas ao chão, ou do horário tardio que sempre dormia, ou que apreciava mais a gentileza do que a beleza. 
  Não existe melhor pontuação do que os três pontos. Pelo que virá, certamente, ou pelo que já é conhecido pelos que ali estão. Não pela saudade, às vezes é um tanto cruel aqueles três pontos surgirem, porém mesmo dentro de crueldade qualquer, iniciasse ali uma nova etapa, e com um ponto final, indubitavelmente, acabaria. O ponto final é o fim. Talvez exclame, talvez pergunte, talvez virgule, ou mais uma vez... Era saudade o que não podia definir, eram os três pontos, justos da saudade; não tinha UM algo, nem dois, nem cinco, eram pontos dispersos, uma variedade, daqueles famosos TRÊS PONTOS.
  Essa saudade era tão grande, às vezes tão pequena, era quase despercebível. Era uma saudade das saudades que já tinha tido, que, de repente, passou a não mais ter. Tipicamente as pessoas se elogiam, elogiam o cabelo, os óculos, o sapato, a barriga, os olhos, o olhar, as sardas, mas depois de muito caminhar, a vivência mais concreta que ali estava, era aquilo o que cada um mais prestasse atenção. Ele; não eram abraços, não eram beijos, nem as conversas, vira e mexe ele falava coisas totalmente sem-sentido, tinha até diálogos bem próprios, às vezes; era do cheiro, não sei se alguns de vocês já viram o filme do assassino que diferencia o odor das coisas impressionantemente bem, Perfume - A História de um Assassino, e que afirma, fortemente, no filme, que cada um tem um cheiro diferente, enfim, o diálogo não era esse, me referia aos cheiros mais variados, e sim, determinantes, cheiros demonstrativos e convidativos que exalam durante algo, mas me referiria explicitamente a sexo; cada um tem um cheiro, um gosto, uma maneira de ser percebido, durante o ato em si. Ele nunca tinha escutado um elogio a respeito dele próprio relacionado a isso; e nos últimos tempos, surpreendentemente, já ouviu mais de uma pessoa falar. Isso o impressionava, afinal, ele nunca havia pensado realmente sobre esse ato em si. 
  Sentia falta do cheiro de uma determinada pessoa específica, sentia falta de um odor - estranho, eu sei - não sabia como definir, e essa saudade, era a saudade de quê? Saudade do gosto, das conversas, da convivência, dos risos, das brigas, do silêncio que não incomodava, ou talvez, do cheiro que enchia o quarto quando ela se deitava sobre a cama. 
  Depois de muito pensar, sobre aquela quantidade absurda de saudade, ele percebe, a saudade talvez não seja das saudades que deixou, talvez seja saudade da saudade que ainda não teve, entendem?
  São os três pontos que melhor definem uma afirmação assim. Não teve um ponto final, porque ainda não teve um fim. A exclamação também definiria corriqueiramente, assim como a interrogação, fechariam o texto, e ele ainda não está. Os três pontos definem de forma indefinida, sem saber aquilo que os espera. 

    Eis, é a vida.

  Onde definir seria minimizar o que está por vir, três pontos são o que os espera. É um possível começo, uma introdução. Já sabida pelo leitor, ou ainda, que será demonstrada. 
   
   (...)Logo a seguir.

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